Prova de concurso público em Goiânia é mais um caso de estupro coletivo

Por Sandra Ramos

Minha experiência docente de 35 anos deu-me o privilégio de lecionar em todos os níveis de ensino, da pré-escola à pós-graduação, com especial dedicação à formação de professores. Esta trajetória dá-me condições para fazer análises mais apuradas do processo educacional brasileiro. Uma constatação que faço e me deixa envergonhada é o problema da doutrinação no sistema de ensino.

Uma deslavada doutrinação ideológica que vem sendo implantada nas universidades e nas escolas do país. Uma tentativa escancarada e incansável de aliciar os brasileiros para redefinir conceitos e concepções tradicionais. Um verdadeiro estupro ideológico.

Ao ler a prova do Concurso Público da Secretaria Municipal de Educação e Esporte, Profissional da Educação II, da Prefeitura de Goiânia, aplicada em 19/06/2016, fiquei estarrecida com algumas questões das provas. Questões essas de explícita doutrinação ideológica. Afinal, se o candidato não responder o previsto pelo gabarito ideológico, é reprovado.

Estupro das liberdades de pensamento e de consciência. Estupro das concepções e valores. Não se trata de uma relação “consensual” em que o indivíduo se sinta livre para aceitar ou repudiar novos conceitos. Trata-se de um ato de violência em que para ser avaliado em um processo seletivo, o candidato é obrigado a responder de acordo com ideólogos sem escrúpulos.

Para um melhor entendimento do objeto da minha indignação, comentarei algumas questões do Caderno de Língua Portuguesa, para Pedagogo (minha área de formação).

Orley primeiro recorte unnamed

Logo no primeiro texto “Objetivo de princesas da Disney não é mais o casamento, revela estudo” encontramos a Ideologia de Gênero em ação e sua tentativa de convencer a sociedade para o fato da Disney reconduzir sua abordagem sobre conceitos de família, casamento, papel da mulher, feminilidade e masculinidade. Um texto indutivo para levar o leitor a aceitar essas mudanças como evolução social, que na verdade é doutrinação. Para dar o tom de respaldo científico, apresenta uma referência tendenciosa, publicada em um site da internet, sem fonte bibliográfica.

No texto abaixo podemos identificar a defesa da “Teoria Queer”, defendida pelos grupos LGBT, com a afirmação de que as pessoas nascem sem gênero definido. Segundo essa teoria, o sexo biológico não é determinante para a definição de homem ou mulher, visto que são constituídos pela sociedade e a cultura. Essa teoria que se diz científica, convenientemente, renega os contributos das ciências naturais como a biologia e a genética, por exemplo. 

Orley segundo recorte unnamed

O Texto 3 “Teoria, ideologia e a urgente necessidade de pensar contra a má-fé” é acintoso. Difunde uma cultura de ódio pelos que eles chamam de “fundamentalistas” (leia-se cristãos). O texto conclama à guerra contra os que pensam diferente, sem perguntar a sociedade se ela aceita essa nova visão imposta, inclusive pelos meios de seleção em concurso público. Uma atitude muito mais vergonhosa do que reprovar mulheres em entrevista de emprego simplesmente por serem mulheres. Trata-se de legitimar a seleção preconceituosa através de concurso público. Aonde vamos parar?

Orley terceiro recorte unnamed

O próximo recorte fala por si mesmo. Quem usa de má fé? Será os que se utilizam da máquina estatal e de um instrumento legítimo de entrada democrática no mercado de trabalho para aprovar quem pensa igual a eles e excluir os contrários? Os prejudicados seriam os defensores dos valores tradicionais, do bom senso e da decência?

Orley quarto recorte unnamed

A prova de Goiânia não é exceção. Esse tipo de prova impregnada de doutrinação ideológica alastra-se nos concursos Brasil afora.

Candidatos à docência para as escolas da Prefeitura de Goiânia, prejudicados com esse abuso doutrinário, não permitam esse estupro coletivo de suas liberdades de pensamento. Exija a anulação deste concurso. A guerra contra vocês que defendem a família tradicional e cristã foi declarada. Ergam-se contra essa massiva doutrinação ideológica. Devemos defender a educação brasileira desse crime contra a liberdade.

Sandra Lima de Vasconcelos Ramos é professora da Universidade Federal do Piauí, psicopedagoga, mestre e doutoranda em educação.

Deixe um comentário